Ruídos

O vento sopra fazendo barulho… assobiando. A porta range, abrindo e fechando, cantando e dançando pelo ritmo do vento.
Casais apaixonados beijam-se na praça central, fazendo estalos ao juntar labios sedentos pelo outro. Casais jovens, adultos e casais maduros.
O cachorro late e corre atrás do carro que também corre. Mas parado, cansado, ele continua a latir.
O caminhão buzina quando entra no túnel, e o eco intimida os transeuntes que seguem seu rumo.
O guarda apita para acabar com a bagunça de crianças que assustam as senhoras, usando estalinhos e cornetas. As senhoras se assustam, e gritam “ai”… e dão sermões.
A passeata passa em protesto por alguma coisa, mas não sei do que, pois todos falam junto. É confuso.
Um passarinho pousado no fio deve estar cantarolando o amor pelas flores, mas não sei, pois não consigo ouvi-lo. Mas se ele estiver calado, que triste seria.
Existe uma feira logo no fim da rua, hoje é dia disso: “moça bonita não paga, mas também não leva”. O mundo está perdido sem os cavalheiros que pagam a conta.
Um bebê chora, e a mãe de primeira viagem em vão tenta acalma-lo. É o dentinho que está nascendo, mas ela acha que é fome, manha ou dor de barriga. E ele chora.
A vizinha apaixonada (só pode), curte músicas na vitrola da vozinha já falecida, e como num ritual, dança em frente ao espelho que fica de costas pra janela.
E no meio disso tudo, não encontro o meu silencio para escrever.

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